sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Capítulo Cinco - Companhia

Claro que eu deixaria. Eu sorri e balancei a cabeça. Ele sentou-se e pegou o cardápio que estava na frente dele.
- Você me indica alguma coisa? - Ele perguntou.
- Peça o de picanha, é o melhor.
Ele acentiu e continuou olhando para o cardápio.
- Não sei comer nesses cantos. Pode me ajudar?
- Você nunca comeu aqui? - Perguntei. Ele balançou a cabeça. - Vamos.
Me levantei e o puxei pelo braço. O meu coração acelerou quando nossas peles se encostaram, senti ele olhando para mim mas finji não ter sentido nada. Continuei andando segurando o braço dele até o balcão. Parei na frente de um caixa vazio e soltei o braço dele. Me virei para ele e ele estava sorrindo olhando para o nada.
- Vai pedir aquele mesmo?
- É grande? Não estou com muita fome. - Ele disse.
- Vou pedir um pequeno então. - Me virei para a mulher que sorriu como uma boa atendente. - Queria um X-Burguer normal. Alguma coisa para beber? - Me virei para ele.
- Não.
- Seis e ciquenta. - A atendente sorridente falou.
Ele deu o cartão para ela e ela o passou na máquina. Ela o devolveu e ele botou no bolso.
- Vamos.
Eu não o peguei de volta. Fui direto para a mesa e ele me seguiu. Assim que me sentei o meu sanduiche chegou e ele ficou me observando comer. Fiquei vermelha e baixei a cabeça apenas pro meu sanduiche. Minutos depois de silêncio entre a gente o sanduiche dele chegou e ele ficou olhando ele por alguns minutos.
- Você não gosta? - Perguntei rindo. Ele fez uma careta para o sanduiche e levantou os olhos para meus lábios. - Tô melada?
Peguei um lencinho e limpei a boca, mas estava limpa.
- Não, não. Você é bonita de se ver.
Fiquei vermelha e ele sorriu virando o rosto para o lado. O rosto dele não tinha uma posição mais bonita que a outra. Ele suspirou e voltou o rosto para mim. Ele me olhou mas o silêncio não invadio o lugar.
- Se você não gosta porque pediu?
- Não sei. - Ele disse num suspiro. - Eu tive medo de lhe perder de vista.
- Oh.
Meus olhos não sairam do dele mesmo eu estando tão constraginda com aquela situação. Ele sorriu e eu dei um meio sorriso agora olhando de volta para o minha bandeja agora vazia.
- Desculpe. - Ele disse e eu olhei para ele.
- Não, está tudo bem. Não tem pelo que se desculpar. - Tentei sorrir mas não saiu tão bom.
- Estou vendo.
- Não. Sério. É que eu não sou acostumada a receber... elogios.
Encostei meus cotovelos na mesa e botei o queixo na mão o observando enquanto ele pensava, ou estava apenas me olhando. As emoções dele nunca davam para perceber demais. Tinha sempre uma interrogação no final do que eu descrevia ele.
- Você é dona da loja? Marie's Story? - Ele perguntou.
- Minha mãe é. Eu só gasto o dinheiro.
Ele pegou o sanduiche ainda completo em cima da bandeija e deu uma mordida e segurou a cara feia. Eu segurei o riso.
- Me desculpe perguntar. Mas você tem quantos anos? - Perguntei.
- Vinte.
- Sério? Pensei que tinha 17.
Ele ergueu as sombrancelhas ainda olhando o sanduiche e se preparando para a segunda mordida.
- Não tem problema se não quiser comer. Gosto de sua companhia. Não tem que se sacrificar para ficar aqui.
Ele ia levantando a cabeça, mas eu baixei a minha. Eu ficaria constragida demais com a minha demostração de afeto. Eu não fazia coisas assim. Mordi meu lábio inferior.
- Tudo bem então.
Levantei a cabeça sem olhar para ele e ele tinha fastado a bandeija para o lado. Sorri ainda com a cabeça baixa.
- Você gosta da minha companhia? - Ele perguntou e eu senti meu rosto ficar todo vermelho. Ri, mas fiquei com a cabeça baixa. - Certo. Não vou deixar mais você vermelha. - Levantei a cabeça e o olhei, ele sorria de lado para mim. - E você tem quantos anos?
- Dezessete. Sou uma criança comparando à você.
- Não a vejo assim.
- Obrigada.
- Você sabe o meu sobrenome e eu não sei o seu.
O sobrenome dele? Me deu branco. Era tão difícil e estrangeiro que eu não lembrava. Miller Green. Lembrei.
- Viviane Marie Duarte.
- A loja levou o nome por sua causa?
- Não. O nome de minha mãe é Marie. Eu só peguei o segundo nome.
- Seu pai tem a loja também, ou...?
- Ele é empresário de muitas lojas daqui. Mas porque o interrogatório? - Eu disse rindo.
- Desculpe. Só queria saber mais sobre você.
- Não precisa pedir desculpas. Estava brincando.
Ele riu sua risada rouca e suave, eu ri apenas por ovir sua risada. Meu telefone tocou atrapalhando aquele momento tão bom pra mim. Abri a bolsa e peguei o meu celular.
- Oi, mãe.
- Seu pai já está aqui. Terminou?
- Já estou indo. - Desliguei e joguei o celular na bolsa vazia.
Botei a bolsa no ombro e me levantei. Ele se levantou junto e sorriu para mim.
- Tenho que ir. - Eu disse.
- Certo.
Eu balancei os lábios para falar, mas os olhos dele me distrairam mais agora que estavam tão perto dos meus. Ele era uns vinte centrímetros mais alto que eu. Seu cheiro era bom, uma mistura de cheiro próprio com perfume.
- Você parece meio perdido aqui. Vou te dar meu telefone. Você pode ligar quando se sentir perdido. - Eu disse e ele sorriu.
- Obrigado. - Ele tirou o celular do bolso e me deu.
Um celular que não era comum aqui. Ele era lindo e tinha as instruções em inglês. Digitei meu número e meu nome e salvei.
- Pode ligar. Tchau. - Sorri e dei as costas para ele andando de volta para o único corredor do shopping.
Andei em direção à loja e meu pai estava vindo na direção contrária. Ele acenou e eu sorri para ele. Ele passou o braço na minha cintura e andamos de volta para uma das duas portas para o estacionamento. Mexi numa mecha de cabelo e quando levantei a cabeça o Roberto estava sentado em um banco. Dei um meio sorriso e olhei para os lábios dele dando um sorriso e olhei para baixo.
Entrei no carro preto de meu pai e andamos em silêncio de volta para a minha casa. O condomínio estava com a praça do meio acesa e muita gente nos bancos. Meu pai buzinou e parou o carro.
- Se importa de eu ir? - Perguntei.
- Não.
Desci do carro e andei pela rua do condomínio até minha casa. Passei o caminho olhando para o chão por ser de pedra e eu não me dar muito bem com chão de pedra. Ouvi as folhas da árvore se mexer e olhei para trás por cima do ombro. As ruas eram dividas por altas árvores com muitas folhas. As folhas estavam quietas, apesar de eu ter escutado. Olhei para frente e minha casa era a quarta depois da que eu estava.
Mordi o lábio inferior e me aproximei das árvores. Houve um silêncio, mas não completo. Eu ainda podia ovir o barulho na praça do condomínio. Mexi no galho de uma das árvores e ela toda balançou. Me assustei e cai sentada no chão.
Eu podia escutar a minha respiração errada e o barulho da praça. Podia ovir outra coisa também. Mas o que seria? Era como se fosse um assobio, ou um assopro barulhento. Botei a mão no chão e me levantei. Continuei andando para minha casa, olhando para o chão e limpando o meu vestido.
Outro barulho veio da árvore, agora mais perto de mim. Me virei com os olhos quase caindo do rosto e parei. O barulho da praça agora era quase inotável, apenas ouvi minha respiração. Escutei outra repiração, mais correta que a minha. Olhei por todos os lados das árvores e vi uma sombra abaixo de uma árvore.
- Quem é você?
Meu ar faltou e eu só pude ver o preto do céu sobre mim. Me sentei em seguida e a sombra tinha ido embora. Me levantei e limpei o meu vestido novamente. Me virei para minha casa de novo e uma sombra passou para dentro das árvores ao meu lado. Engoli em seco e quase corri para minha casa.
Abri a porta azul e a fechei depressa. Fiquei encostada na porta até minha repiração voltar ao normal. Me virei para a porta e olhei no olho mágico para fora. A imagem era ruim e acendi a luz externa da porta da casa, mas não vi nada de estranho ou diferente na rua do meu condomínio. Surpirei de alívio e subi para o meu quarto.
Tirei meu vestido amarelo agora sujo do chão e joguei no chão do banheiro. Vesti minha roupa de dormi e peguei um livro. Era minha hora de desligar ao mundo.
Eu tentei me concentrar no livro. Mas o rosto do Roberto vinha à minha cabeça. Pulei da cama e peguei meu celular.
Nenhuma ligação.
O botei em cima da cabeceira da cama junto com o livro e apaguei as luzes. Ou eu iria dormir ou ficar como uma adolecente ridícula pensando no sorriso de menino maravilhoso que conheceu.

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