domingo, 8 de março de 2009

Capítulo Nove - Jantar

Minhas noites nunca foram tão pertubadas quanto a de hoje. Acordei talvez cincou ou seis vezes na noite e sempre tinha o mesmo sonho.
Eu estava no mesmo corredor, mas no final dele não tinha a mesinha e sim uma porta de madeira pesada. Quando eu a abria via duas cadeiras uma na frente da outra. Uma janela estava no fim da sala coberta com um pano preto. Uma mesa no meio das cadeiras iluminava o espaço. Uma mulher estava sentada em uma delas.
Os cabelos loiros dela estavam em um tamanho fora do comum. Ela sentada e seus cabelos batiam quase no chão. Os cachos eram bem definidos e do mesmo tamanho da raiz até as pontas. Os olhos dela tinham uma cor de mel, mas escuro. Ela vestia uma calça preta e uma blusa com detalhes pretos. Sua pele quase iluminava na luz do abajur. Ela sorriu para mim e apontou para a cadeira vazia na frente dela.
"Sente, Viviane querida." Ela disse um tom convidativo. Eu não hesitei em sentar ao lado daquela mulher de feições tão perfeitas. Agora que eu estava mais perto dela notava que seus lábios tinham um formato de coração e seus olhos eram bonitos apesar de dar medo pela sua cor endurecida. "Não se preucupe. Seu amado está bem. O Thomas só não ficará mais com você."
Eu não conhecia o Thomas como ela disse. Ela soltou uma gargalhada por entre os lábios quase fechados e olhou para trás no escuro do resto da sala. "Thomas, querido, ela ficará bem." Ela se levantou e andou desfilando pela escuridão da sala. Ouvi um rugido por dentro do escuro e ouvi novamente a risada da loira. Uma luz acendeu e eu vi o Thomas atrás de uma grade com ferros grossos. Seus olhos estavam com um azul escuro agora, mas ele olhava para mim com dor. "Roberto". Soltei o nome dele num sussurro.
"É assim que você o chama?". A loira falou ao lado da grade. "Você sabe mentir muito bem, Thomas. Estou surpresa de verdade. Mas você mentiu sobre nossas origens". Ele soltou um rugido.
Meus olhos abriram para o claro do meu quarto agora. Puxei meu celular de cima da mesinha e vi a hora. Marcava dez horas em ponto. Eu não podia dormir mais e ver aquela loira novamente nos meus sonhos.
Me arrastei para o banheiro e tomei um banho gelada para acordar. Vesti meu camisolo ainda e liguei meu computador.
Passei até o doze horas perambulando entre os sites que não tinham nada de interessante. Vesti uma roupa mais descente e desci para a cozinha que vinha um cheiro convidativo. Tinha passado quatro dias desde meu último encontro com o Roberto. E eu estava sentido tanta falta dele.
Almocei vendo meu irmão se lambuzar com comida como um porco. Subi para meu quarto e meu celular estava tocando desesperadamente em cima de minha cama. O atendi sem ver o número antes que ele desligasse.
- Alô?
- Oi, Viviane. - Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar. - Talvez, nós deveríamos nos ver.
- Claro que sim, Roberto. - Ouvi um suspiro no telefone segurei uma risada.
- Você conhece a cidade melhor que eu.
- Mas é você que está me convidando. - Ele ficou em silêncio. - Certo, não sei para onde nos iremos enquanto eu não sei o que a gente tem.
- Como assim? - Ele perguntou confuso.
- O que a gente é um para o outro.
- Entendo. - Fiquei em silêncio esperando ele dizer alguma coisa. - Posso levar você para algum lugar? Você dizendo para seus pais que vai sair comigo? Eu a levo e a deixo em casa.
- Perfeito.
- Oito horas eu passo na sua casa.
- Posso saber mais ou menos o que vestir? - Ele bufou.
- Você estará perfeita de qualquer jeito. - Eu bufei agora.
- Se eu for mal vestida será por sua causa.
- Certo, certo. Tchau.
- Tchau. - Eu desliguei.
Botei o telefone na mesinha e encarei meus pés.
- Você está be, querida? - Minha mãe perguntou.
Levantei a cabeça e ela estava parada na minha porta. Ela vestia suas roupas de sempre e um salto alto.
- Estou, mãe. Pode vir aqui? - Ela deu passos pequenos e elegantes e sentou ao meu lado na cama. - Eu acho que tenho um encontro hoje. - Ela levantou as sombrancelhas e deu um sorriso.
- Quem é ele?
- Roberto. Eu o conheci na sua loja e nós saímos e ele me convidou para sair hoje.
- Boa sorte querida. Mas vocês vão pra onde?
- Então. Ele queria me buscar e me levar para algum lugar, acho que é um restaurante, não sei.
- Ele vir lhe buscar? Ele tem carteira de motorista? - Acenti com a cabeça. - Por mim tudo bem querida. Confio em você. - Ela se levantou. - Tenho que ir. Tchau. - Beijou minha cabeça e saiu com os mesmos passos para o corredor.
Minha mãe sempre me entendia. Era sempre compreensiva e boa. Agradecia ter uma mãe desse jeito, porque meu pai era antiquado por os dois.
A tarde nunca passara tão lenta como essa. O relógio nunca queria marcar sete horas, para eu começar a me vestir. Era seis e meia e eu tinha que ir escolhendo minha roupa.
Abri meu guarda-roupa e o encarei por um bom tempo. Achei um vestido xadrez vermelho, uma calça jeans escura e outra clara, uma blusa roxa de botões, e uma camiseta vermelha. As joguei em cima da cama e as encarei por mais tempo agora.
Grunhi e sentei em cima das roupas. Porque ele não dizia logo pra onde íamos? Cruzei os braços como uma criança que não ganhou presente de natal. Tomar banho primeiro!
Meu banho demorou menos que eu esperava. Escovei meu cabelo com uma lentidão exagerada e voltei para o meu guarda-roupa. Abri minha gaveta e vi uma blusa de pano fino branca que eu usara no cinema. Ela ficaria bonita com a camiseta vermelha. Vesti a calça jeans clara e a camiseta vermelha. Botei a branca por cima e soltei uma das alças para cair sobre o ombro. Botei brincos e pulseiras prateadas. Me cancei com uma sandália branca com salto baixo. Me olhei no espelho e depois fui para o relógio.
Sete e quarenta e cinco. Será que ele era pontutal de chegar às oito em ponto? Me deitei na cama e fechei os olhos cansados da noite mal dormida. Abri os olhos com o interfone tocando. Levantei pegando meu celular e botando no bolso. Corri para a cozinha e o atendi sem ar.
- Roberto está aqui.
- Pode deixar entrar. - Disse para o porteiro.
Passei pela sala e me olhei no vidro da janela. Passei o dedo pelo meu cabelo e abri a porta azul. Um carro cinza vinha pela rua e eu andei até a calçada. O carro parou com a porta do motorista parado para mim. Ele saiu do carro.
Ele vestia uma calça jeans escura e uma blusa preta de botões. Seu cabelo estava ainda de lado como um garoto de 18 anos e seu sorriso me causava arrepios. O olhei nos olhos e o silêncio durou menos de cinco segundos.
- Você está absurdamente linda. - Ele disse em seu tom de voz sexy.
- Obrigado. Não existe nenhum adjetivo para descrever você. - Ele revirou os olhos com um sorriso.
Ele ficou de pé ao meu lado e esticou a mão como um rei chama sua rainha para uma dança. Não hesitei em pegá-la e meu coração acelerou. Ele me levou até a porta do passageiro e a abriu para mim. Entrei no carro e não o vi passando até a porta do motorista. Ele ligou o motor e saiu do meu condomínio. Entramos na avenida e ele seguiu ela até chegar em um restaurante lindo.
- Você é surpreendente. - Eu disse mais comigo mesmo.
Não ouvi a resposta e abri a porta do carro. Olhei para dentro do restaurante e todos estavam conversando e vestindo roupas diferentes da minha. Eu estava bem vestida? Encolhi os ombros e senti uma mão nas minhas costas. Ele segurou minha mão e andamos para dentro do restaurante. Não notei nenhum olhar para mim ou minha roupa, mas agradeci quando nos sentamos.
Pedimos uma pizza nordestina e me perguntei se ele ia comer já que ele rejeitava toda comida.
- Você contou para seus pais que ia sair comigo? - Ele perguntou.
- Contei.
- E você disse o que sobre o que sermos um para o outro? - Me engasguei com o ar. Falar por telefone era uma coisa, olhando nos olhos azuis dele era outra.
- Nada. - Ele riu.
- Deveríamos ajeitar isso então. Namorados talvez. O que você acha? - Engoli em seco. - Tudo bem se não quiser e...
- Não! Não é isso. Eu sou tímida o suficiente para ficar envergonhada com isso. - Falei fazendo uma careta e ele riu.
- Isso foi um sim?
- Você fez um pedido? - Perguntei.
- Creio que fiz.
- Então isso é foi um sim. - Deixei a timidez de lado se não perderia ele.
Ele se empurrou para frente na mesa e tocou os lábios nos meus. Meu coração palpitou só com o toque dos nossos lábios. O garçom limpou a garganta e serviu nossa pizza. Ele comeu, fazendo careta quando eu fingia que não estava vendo. O telefone dele tocou e ele atendeu na mesa mesmo.
- Oi, querida. - Ele disse e houve silêncio. - Não, não. - Ele fastou a cadeira e sorriu para mim pedindo licença, acenti com a cabeça.
Ele andou até onde tinha espelhos de banheiro e continuou com o telefone no ovido. Me desviei dele e notei duas mulheres de mais ou menos 20 anos, uma com um loiro falso e outra ruiva, olhando para mim com cara de nojo. Baixei a cabeça envergonhada e voltei a comer minha pizza.
A cadeira do Roberto fastou e ele sentou ao meu lado sorrindo. Botei outra garfada na boca para não perguntar quem era. Ele voltou a comer também.
Levantei a cabeça e vi que as mulheres olhavam para o Roberto agora. Eu ri baixando a cabeça.
- Não ouvi alguma piada? - Ele perguntou sério.
- Tem duas mulheres que estavam me fuzilando com os olhos e agora estão olhando para você.
- Não me importo com elas.
Ele se esticou novamente e me beijou, agora não apenas tocando meus lábios. Senti meu coração palpitando mais forte e ele fastou do beijo. Mordi o lábio inferior e respirei apenas pelo nariz, tentando fazer minha respiração voltar. Ele ainda tinha o rosto perto do meu e botou a boca perto da minha orelha e beijou a ponta dela, me fazendo tremer.
- Você está extremamente linda, querida. - Ele sussurrou.
Peguei o ar duas vezes para falar mas nada saiu. Ele fastou e eu sorri em forma de agradecimento para ele.
- Deixe eu fazer uma coisa. - Ele disse e olhou nos meus olhos.
Tudo ficou em silêncio e depois ouvi as vozes das duas mulheres.
- Ele deve estar louco. - Uma disse e a outra bufou.
- Essa magricela horrorosa... Ele devia ter alguém mais proximo da beleza dele.
- Você que não é. - Roberto disse e eu ri.
- Também acho. Talvez deviamos trazer a atenção dele para nós. - Ele revirou os olhos e desviou os olhos de mim trazendo barulho de novo.
- Isso foi... interessante. - Eu disse. - A magricela feia aqui gosto. - Brinquei.
- Você não é nada disso. Na verdade não acho ninguém mais bonito que você.
Senti meu rosto ficar vermelho e ele se aproximou para me beijar de novo. Passei os dedos no cabelo dele. Acho que nada tinha o gosto parecido com o beijo dele.
A noite foi assim até o fim. Entre as mastigadas ele me dava um beijo e sempre era bom e fazia meu coração sair do lugar.
- Já está tarde. Não devemos ir? - Perguntei mesmo querendo o contrário.
- Por mim, eu não iria.
- Acredite, por mim também não.
Pedimos a conta e entramos no carro. A viagem foi mais curta do que nós dois queriamos. Ele parou na frente da minha casa e eu suspurei sabendo que aquilo era o tchau de hoje. Soltei o cinto e sussurrei um tchau. Abri a porta e ele pegou meu braço. Me virei para ele e seu rosto estava mais perto do que eu imaginava. Ele sorriu e eu sorri junto, ele passou a ponta dos dedos contornando meu queixo e depois me beijou. Sorri e sai do carro. Andei até minha porta e a abri. Virei as costas e acenei uma última vez e vi os farois sendo ligados e ele acelerou. Fechei a porta e meu pai estava na porta do escritório dele me olhando.
- Oi, pai. - Disse quase sem voz.
- Oi, Viviane. Sua mãe falou do seu... encontro. - Eu caminhei devagar até ele enquanto ele falava. - Quem é ele?
- Roberto. Eu e ele... meio que estamos namorando. - Minha voz foi sumindo até a última palavra e ele ficou vermelho.
- Porque vocês tem que crescer? - Ele perguntou para si mesmo e me deu as costas entrando no seu escritório.
Levantei as pernas e andei, quase correndo, para meu quarto. Me deitei sem tirar a roupa e me cobri com o cobertor.

- desculpem a demora para postar o nove. eu tive uma semana com muitas coisas na escola. :)

3 comentários:

  1. Tudo bem a escola sempre tira nosso tempo livre mesmo! Otimo capitulo. Estou anciosa para o 10°!
    Beijooo

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  2. ahhh tudo bem!!]
    estar cada vez melhor ^^

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