terça-feira, 24 de março de 2009

Capítulo Quinze - Adeus

Atendi ao telefone e não disse nada. Mas eu podia ouvir a respiração de alguém do outro lado da linha.
- Alô? - Eu disse quase sem voz.
- Viviane. - Roberto disse com sua voz rouca, fazendo meu coração palpitar pela primeira vez depois da última vez que nos vimos. Meu ar acabara e eu não teria mais forças de pronunciar outra palavra. - Você está ai? Não escuto sua respiração. - Soltei minha respiração. - Você está bem?
- Aham. - Fiz apenas o som, pois sabia que nada ia sair.
- Desculpe sumir assim. Mas você, quem sabe, um dia entenderá.
- Entender? Você sumiu! Sumiu sem se despedir e agora vem pedindo desculpas e dizendo que eu vou entender. Tenha dó, Roberto. Eu aqui trancada nesse quarto faz duas semanas. - As palavras saíram de uma vez, passando uma por cima das outras.
- Me desculpe. - A voz dele falhou. - Não queria magoá-la. Mas será melhor assim.
- Onde você está?
- Oxnard.
- Que fica...?
- Na Califórnia. - Ele disse rápido.
- Isso tem alguma coisa haver com a loira que eu vi no meu quarto?
- Tem.
O silêncio no telefone agora era perturbador. Eu podia ouvir a respiração dele e a minha. Não era o silêncio que eu antes gostava de ouvir quando eu olhava nos olhos azuis dele.
- Eu acho que eu um dia vou ter que lhe contar a verdade. - Ele soltou a respiração.
- Eu iria agradecer. - Falei ironicamente.
- A loira no seu quarto, o nome dela é Maddie. - Esperei ele falar mais. - Ela é... uma ex-namorada minha. Ela deve. - A voz dele falhou e ele respirou duas vezes. - Ela deve ainda sentir algo por mim.
- Mas o que isso tem haver com você ir para outro país?
- Ela é perigosa. Podia fazer algo com você se me visse perto de você.
- Nossa Roberto, você é realmente inacreditável. - Revirei os olhos mesmo sem ele poder ver.
- Você tem que apenas acreditar nisso por en...
- Como assim? Ela é perigosa como? Vai me matar por ter você como namorado?
- Mais ou menos.
- Isso é totalmente ridículo! - Eu quase gritei.
- Ela pode lhe fazer muito mal, de um jeito que você nem pode imaginar.
- Isso deve explicar como ela entrou no quarto e saiu sem ninguém ver e em tempo muito curto.
- É exatamente isso.
O silêncio voltou novamente. Minha respiração estava tão nervosa, e a dele igual. Aquilo não cabia na minha cabeça de modo algum. Segurei o telefone no ouvido e, a outra mão coloquei no meu cabelo despenteado.
- O que isso significa pra gente, Roberto?
- Como assim?
- Nós não podemos continuar tendo alguma coisa com você guardando segredos e nos Estados Unidos.
- Oh. - Ele soltou junto com o ar.
Meu coração apertou por saber que naquela noite tudo acabaria entre a gente. Era tão inaceitável para mim acabar por telefone. Mas não tinha outro jeito. Senti meus olhos marejados e os fechei deixando cair minhas lágrimas.
- Você está chorando? - Ele perguntou, mas eu não respondi.
Mais lágrimas caíram, fazendo eu me desmanchar. Eram apenas duas semanas de namoro com a presença um do outro e eu estava chorando por ele. Estava chorando pelo nosso fim. Estava chorando por não entender o por que.
Entender não era muito desse relacionamento. Eu não entendia porque do silêncio nos olhos dele. Não entendia como a gente se aproximou tão rápido. Não entendia porque aquela mulher perturbou tanto ele. Não entendia o porque de todas as minhas lágrimas da vida estarem descendo agora. Puxei o ar três vezes tentando parar com as lágrimas, e consegui fazer elas descerem silenciosas.
- Você está chorando. - Não foi uma pergunta. - Me desculpe Viviane. Eu sinto tanto quanto a isso.
- Eu também.
- A Maddie. Você a viu alguma outra vez desde que eu fui?
- Não.
- Isso é menos ruim. Mas ficar longe de você é o pior.
As lágrimas desceram, pelo menos com minha boca fechada. Eu estava realmente apaixonada por ele, e eu só notei isso quando ele estava na Califórnia.
- Pra mim também. - Disse com a voz rouca.
- Eu não vou voltar a lhe perturbar.
- Não, não. - Quase gritei. Ele não podia desligar.
- Algum problema? - Ele perguntou.
- Não sei exatamente. E se ela voltar? O que eu faço? Corro?
- Diga que eu não estou mais com você. Diga à ela que eu estou de volta em Oxnard e ela lhe deixará em paz.
- Certo.
Voltei a ouvir apenas nossas respirações. A dele, desregular e a minha entre soluços.
- Isso é um adeus? - Perguntei.
- Creio que sim.
- Certo. Adeus então, Roberto. - Doeu dizer aquelas palavras, mas teria que dizer-las essa noite.
- Adeus, Viviane. - Ele disse.
Nenhum de nós desligou, ficar ouvindo as nossas respirações devia ser tão bom para ele quanto era para mim. Eu desliguei para não ocorrer mais nada. O relógio do celular marcava meia noite, ele não devia ter se adaptado ao horário. Ele nunca me acordaria se soubesse.
Joguei o celular na gaveta e a fechei. Botei a mão nos meus cabelos despenteados e mais lágrimas desceram. Encostei minha cabeça no travesseiro e o deixei molhar. As lágrimas saiam silenciosas e muitas.
Senti uma mão acariciar minha cabeça, mas nada tiraria minha cabeça do travesseiro e meus olhos fechados não se abririam para ver o mundo. Apesar do rosto do Roberto estar na minha mente, era bom vê-lo, nem que fosse em minha mente.
- Fique assim, meu amor, sem crescer. Porque o mundo é ruim, é ruim e você vai sofrer de repente, uma desilusão. Porque a vida é, somente, teu bicho-papão. - Minha mãe cantou, me fazendo saber de quem era aquela mão na minha cabeça.
As lágrimas caíram mais e mais e eu abri os olhos. Minha mãe estava sentada na beira da minha cama com seu roupão branco e seu cabelo despenteado. Eu me virei e botei a cabeça no seu colo e minhas lágrimas desceram mais ainda. Ela continuou cantando a mesma música da Arca de Noé.
Me lembrei de todos os momentos que minha mãe cantou aquela música para mim. Sempre que eu chorava ela cantava. Ela dizia que era minha música. Porque um dia eu ia crescer e ver que o mundo não era tão lindo. E tinha razão.
Eu vivia em uma casa de campo até meus sete anos, onde minha mãe estudava e meu pai trabalhava com pequenas lojas. Eu cuidava do meu irmão enquanto eles saiam. Nunca achei ruim, nem bati o pé no chão quanto a isso. Meus pais sempre fizeram o melhor possível para nos tirar da nossa pequena casa no meio de verduras e nos levar para estudar. Quando meu pai ganhou dinheiro minha mãe abriu a loja dela com seu curso de moda e meu pai começou a trabalhar com lojas maiores. Nos mudamos para uma casa pequena no centro de Juazeiro e quando completei 13 anos, nos mudamos para a casa de porta azul. Eu já estudava, juntamente com meu irmão. Nos esforçamos muito para acompanhar os de nossa idade. Aprendemos outras línguas e nos acostumamos a estudar sem dar trabalho para um dia agradecer tudo o que nossos pais fizeram por nós.
Deixei meus olhos caírem enquanto ouvia a música conhecida da boca de minha mãe, até conseguir dormir. Por talvez trinta minutos.
A partir daquele dia seria cada vez mais difícil. Eu sabia que não o teria mais nunca. A gente deu adeus um para o outro e tudo terminou. Segurei as lágrimas dentro do carro, apesar de minha mãe ter me visto chorar a noite quase toda, eu não queria dar mais preocupação para ela. Desci do carro e ouvi ela desejar uma boa aula para mim e para o Bruno. O corredor aberto trazia sol para todas aquelas fardas brancas fazendo eu ficar tonta.
- Você está bem? - Uma voz masculina perguntou atrás de mim. Me fazendo virar de vez. - Ow, cuidado ai.
O George estava me olhando com um sorriso no rosto, mas logo ficou sério e suas sobrancelhas enrugaram-se e os olhos cor de ouro passaram para meu corpo. Acompanhei o olhar dele. Talvez eu tenha esquecido de alguma coisa, ou trocado. Mas estava tudo ali. Calça, blusa, tênis, meia, bolsa, cadernos. O que havia de errado se eu estava exatamente como ontem? Ele não podia ver meu coração em pedaços dentro de mim.
- O que foi? Algo errado em mim? - Perguntei.
- Você parece triste. - Desviei o olhar dele e soltei um hunf pelos meus lábios. Ele continuava com as sobrancelhas enrugadas quando olhei para ele. Seu par de olhos ouro estavam agora com dó, ou algum sentimento que eu não tinha tempo de ver o que seria. - Posso levar seus cadernos?
- Obrigada. - Entreguei os cadernos e seguimos para a nossa sala.
A sala já estava cheia e o frio da sala me fez querer ficar torrando lá fora. O frio era muito calmo e menos perturbador que o sol para eu ficar o dia todo. Minha cadeira estava no mesmo lugar que ontem. George botou os cadernos em cima e eu sentei nela. Vi a Ana e a Mariane sorrindo para mim e eu sorri para elas, tentei. Não sei se consegui, mas eu também não ligava para isso. George sentou do meu lado e o professor entrou na sala.
As aulas passaram lentamente e eu estava com vontade de sumir. O George não parara de me perguntar o que estava acontecendo o dia todo. Mas me abrir com um colega de sala que eu conhecia fazia um dia não era algo que eu apreciava. Não queria contar para minhas melhores amigas, imagine alguém que conheci.
O sinal tocou indicando o intervalo. O dia já não tinha acabado? Me arrastei até a porta e procurei uma mesa vazia embaixo de uma árvore no corredor aberto.
- O que você tem? - Ana e Mariane fizeram um coral.
- Nada. Apenas não dormi direito.
- Tem certeza? - Ana perguntou. Acenti com a cabeça.
- Quer lanche? - Mariane perguntou. - Estamos indo comprar.
- Não, estou sem fome.
Elas saíram, me olhando por cima dos ombros. Desejei poder contar tudo a elas. Mas se eu não estava entendendo, que convivi com ele, elas não iriam entender. Fiquei observando as pessoas conversando com as outras para tentar ocupar minha cabeça, como fiz toda a aula. Mas nada naquele dia estava tirando as frases do Roberto de ontem da minha cabeça.
- Oi. - George sentou-se na minha frente. Dei o meu melhor sorriso. - Vai me contar o que está acontecendo, por favor? Eu prometo guardar segredo.
- Não sei se dá para contar.
- Tenho certeza que sim. - Ele relutou com um sorriso branco no rosto. - Você vai se sentir melhor dividindo isso com alguém.
- Eu estava namorando com um cara. Ele é da Califórnia e tem vinte anos. Passamos duas semanas boas e duas neutras. As duas primeiras semanas ele estava comigo e as outras duas não. Eu tive sonhos com uma mulher e ele voltou para Oxnard. Só que ele ligou ontem perguntando sobre essa Maddie e me disse adeus. E eu estava realmente me apaixonando por ele.
Ele não disse nada, apenas ficou olhando para mim, racionalizando tudo o que eu falei. Claro que eu espremi a história, mas eu tinha me aberto para alguém. Não sei se ele entendeu a história toda.
- Tudo bem se não tiver entendido.
- Estou apenas pensando sobre isso.
- Não diga as meninas. Eu não quero contar para elas agora.
- Claro, claro. Como é o nome desse cara?
- Roberto.
- Você é especial. Se ele não te deu valor, o errado foi ele. Mas eu tenho certeza que ele deve estar arrependido.
- Não sei.
Ele se levantou e sentou no banco de cimento que eu estava sentada. Botou a mão no meu ombro, como um melhor amigo e beijou-me a testa. Sorri para ele e ele mostrou todos seus dentes em um sorriso.
- Obrigado por confiar em mim. - Acenti com a cabeça.
Eu acabara de me abrir com um quase estranho. Mas algo nele me levava a contar qualquer coisa para ele. Ele era confiável, e apesar de dizerem para não acreditar na primeira impressão, eu precisava me abrir com alguém, e eu gostava dele para me abrir. Ele não dava opiniões, ou perguntava coisas, ele apenas escutava.
Agradeci quando minha mãe apareceu com o carro na porta da escola. Entrei e esperei o Bruno. Seguimos para casa em silêncio, pelo menos eu.
Meu quarto parecia o mesmo de ontem. Joguei minha bolsa em cima da mesa e tirei as roupas. Botei um vestido branco e desci para cozinha. Estava apenas o Bruno sentado na mesa e a comida servida. Botei pouca comida no meu prato e fiquei mexendo a comida até o Bruno se retirar. Botei o prato na pia, e subi para meu quarto.
A tarde estava sendo mais lenta que o dia. Tentei ver meu caderno de cálculos, mas hoje nada estava conseguindo prender a minha atenção. Fechei o caderno e desci segurando um livro qualquer da minha estante.
Passei pela porta azul e fui em direção da grama onde tinha as árvores dividindo as ruas. Ventava, apesar do calor. As folhas faziam um barulho bom. E apesar de manter minha cabeça totalmente desocupada era melhor que tentar ocupar. Fiquei observando as folhar dançando entre elas e algumas caindo com a ventania que levantava meu cabelo um pouco, por causa do muro.
Abri o livro na primeira página e tentei ler. Mas minhas pálpebras estavam se fechando pela noite mal dormida de ontem.
- Viviane. - Alguém me chamou em um tom baixo, mas o suficiente para eu acordar do meu sono.
Abri meus olhos e o pôr-do-sol estava se formando na minha frente, apesar das nuvens cobrirem quase todo o céu. Meu livro estava aberto sobre meu peito talvez ainda no primeiro capítulo, não lembro onde parei. Eu estava deitada na grama, com a cabeça encostada numa árvore. Me sentei. Os postes já estavam ligados e vi minha casa do mesmo jeito de sempre, mas ela estava totalmente escura.
Mas o que prendeu minha atenção daquele cenário que eu já conhecia foi a figura extremamente linda parada no meio da rua de pedra do condomínio.



Ele tá pequeno. Mas tá chegando no fim, certo? Uma hora tem que acabar ;)

9 comentários:

  1. own *--*
    eu quase chorei aquiii...
    e vou sentir muita falta quando terminar... ):

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  2. Ai Pri =(
    Você não pode fazer isso comigo, parar as coisas na melhor parte, assim você me mata menina.

    MuitoooOOoo lindo...quase chorei tb

    Próximo...próximo...próximo

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  3. Ohh menina, não fale no final pois dá vontade de chorar!
    Adorando a história...
    Mias...Mais...Mais...

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  4. vou sentir muita falta quando terminar... ):[2]
    poosha chorei aqui pri ;(
    IUYEROAUAWROIUE
    ja ta acabando mesmo ? ><

    poostei o cap 4 do meu livro, passa la depois *-*

    beeijos e boa sorte :*
    http://umolharaopordosol.blogspot.com/

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  5. vou sentir muita falta quando terminar...[3]

    ah nao fala no final naoo ta tao bom o livro ;)
    e tbm parar na melhor parte, tou louca pro proximo quando sai?!!
    Bjus

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  6. Hoje já é sábado, cadê o 16º capitulo? >.<
    Por favor post logo!
    Beijooo

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  7. pois é, o capítulo 16 tá me dando um pouco de trabalho, mas vai sair ;D

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  8. nuus isso foi extremamente triste demais além da conta :/
    amanhã continuo a lê, porque isso tá imperdivel ^^

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